terça-feira, 18 de abril de 2017

Aborto espontâneo, a dor do luto


Falar sobre aborto espontâneo é delicado, mas o assunto é mais comum do que pensamos. Aproximadamente 20% das gestações são interrompidas desta forma, mas este número ainda é contestado, uma vez que muitas mulheres acabam abortando sem ao menos saberem que estavam grávida.

Fato é que hoje eu faço parte dessa estatística. E confesso: não é nada fácil!

No final de janeiro descobri que estava grávida e quando a gente vê aquele segundo risquinho na tira do teste de farmácia, o mundo já se transforma. Você já se sente mãe e faz planos. Chora, se emociona, tem medos e uma certeza: um amor sem limites. No meu caso, mais um amor, já que eu tenho a Bia.

Apesar de estar num momento de turbilhões na minha vida, essa gravidez me dava forças e uma esperança que as coisas iriam melhorar. Estava tudo indo (aparentemente) bem. Os enjoos fortes, os hormônios revirando, tudo conforme o cronograma. Com oito semanas a primeira ultra indicou que estava tudo dentro do normal.

E assim se seguiu. Sem nenhum problema visível, continuei a vida, já chegando no fim do primeiro trimestre e na expectativa de um abril mais tranquilo. Mas foi no último dia de março que as coisas se reviraram dentro de mim. 

Fui fazer a ultra de 12 semanas, aquela que permite avaliar se o bebê tem algum problema e dá até para chutar o sexo. Eu estava super nervosa. Quando entrei na sala e a médica colocou o aparelho eu já percebi que algo estava errado. Depois de uns longuíssimos dois minutos de tentativa de ver o bebê, ela foi direta: "ele não desenvolveu, está sem batimento" e colocou o coração, sem nenhum som, só aquele vácuo. E uma dor bateu forte. Há mais de três semanas aquele serzinho já não tinha mais vida dentro de mim.

E foi assim, sem sintomas, sem sangramento, sem indício nenhum de que algo estava errado.

Eu, que nunca tinha ouvido falar em aborto retido, saí da sala e chorei feito criança. Não era possível. Eu perdi um filho! Contando isso agora para vocês, as lágrimas que achei que tinham secado voltaram a brotar nos meus olhos. Passei três dias chorando compulsivamente.

No momento da descoberta tinha optado por esperar que saísse naturalmente, mas percebi que seria muito doloroso psicologicamente saber que aquele bebê estava na minha barriga, mas sem vida. Então após uma conversa com minha G.O. resolvi induzir o processo e acabar logo com aquilo. 

Não doeu, eu me senti aliviada e pensei que tinha fechado este ciclo. Mas não. A dor física veio e a psicológica não passou. As cólicas não são nada perto da tristeza, mas quando elas apertam a lembrança volta mais forte. 

A culpa vem e vai, assim como as memórias daqueles três meses de espera, as conversas com a barriga, as orações, os planejamentos. Tudo interrompido pelo luto.


E eu me dou o direito de chorar, de sentir tristeza, de não entender o que aconteceu. Me permito ficar quieta, calada, sem querer conversar sobre isso ou sobre nada.

Mas ao mesmo tempo eu tenho consciência de que Deus sabe de todas as coisas. E Ele sabe que eu tenho força, assim como todas que passaram por isso, para superar essa fase e tirar todo ensinamento dela. Somos nós que temos que acreditar na nossa capacidade de passar por este ciclo e dar continuidade na nossa vida.

E confesso, fiquei muito mais grudada na Bia, e ela em mim. Ela é meu foco, minha vontade de ficar bem e ser feliz, porque ela quem me traz a alegria que eu as vezes penso que perdi. 

Não conto isso aqui para que você tenha medo de que aconteça com você. Mas para que tenhamos compaixão pelas mães que estão sofrendo. E se aconteceu, saiba que você não está sozinha. Saiba que outras mulheres se compadecem com sua dor. E hoje eu te respeito muito mais pela pessoa forte que você se tornou. 

3 comentários:

  1. Lívia... em 2015 passei por algo parecido. Mas fui "mãe" por apenas 1 mês!
    Descobri que estava grávida quando já estava de 8 semanas! Mas só consegui marcar meu primeiro ultrassom quando teoricamente eu estaria de 12 semanas. Mas vivi tão intensamente esse "1 mês" de gravidez... já tinha montado berço no meu quarto, comprado algumas coisas de bebê, ganhado outras...
    Foi um choque para mim... eu ia fazer o morfológico...Primeiro fizeram aquele ultrassom normal... mas a médica olhou apreensiva disse que eu devia ter errado na conta... que ia fazer o transvaginal! Cheguei a ver o "desenho" do corpinho e a "carinha" dele, mas não tinha batimento cardíaco. Daí a notícia de que ele tira "parado de crescer", que eu havia sofrido um aborto retido. Coloquei minha roupa e saí correndo, chorando para fora da clínica. A única coisa que eu queria era a minha mãe! Liguei para ela (10 de julho, justo no aniversário dela)desesperada para contar a notícia, mesmo sem saber direito o que eu tinha que fazer!
    A médica me disse que eu teria que passar por um procedimento de curetagem. Eu ainda nem tinha uma médica certa que iria me acompanhar, era tanta coisa na minha cabeça. Bem no fim optei por fazer o procedimento em Curitiba (cidade vizinha), como obstetra da minha irmã. quando cheguei lá, no outro dia cedo, consultei e fui encaminhada para o hospital!
    Durante o procedimento apaguei com a anestesia e só fui acordar na sala de recuperação. O maior problema é que acordei junto com outras mães, que haviam acabado de ter seus bebês! Foi muito triste....pois elas estava super felizes, comentando sobre o parto, dos bebês e eu quieta, tentando ficar invisível.
    Eu não tive tempo para "digerir" muito bem essa fase entre a notícia, o procedimento e a recuperação. Voltando para a minha casa no final da tarde, recebi uma ligação, informando que eu havia sido selecionada para fazer estágio no TRE, que naquele dia já havia acontecido um treinamento, mas que eu poderia ir no outro dia! E no outro dia, lá estava eu, quebrada em mil pedaços por dentro, mas por fora tendo que fingir que nada havia acontecido.
    Nos dias seguintes à curetagem senti dores, mas essas passaram, o que não passa é a dor no coração!
    E agora todo dia das mães me fazem lembrar do meu anjinho, que passei um dia das mães, sendo "mãe"!

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  2. Nossa você descreveu exatamente como tenho vivido esses dias. Descobri a gravidez em Março. Nosso tão sonhado filho, depois de 2 anos tentando tivemos essa benção. Mas desde o inicio eu tinha uns sangramentos que iam e vinham, mas tinha feito uma ultra com 8 semanas e estava tudo bem.Mas com 11 semanas e 2 dias (01/05/17) comecei a sangrar mais e ter muitas cólicas, procurei ajuda médica e no hospital eu percebi que na ultra a médica ficou tensa, foi ai que ela me informou que o meu bebe tinha parado de se desenvolver e estava sem batimentos. Meu mundo caiu...passei pela curetagem no dia seguinte, mas fui para casa se sentindo tão vazia, não conseguia nem falar com o marido. Ainda mais agora, semana de dias das mães está sendo difícil demais para mim, já descobri pessoas gravidas essa semana, e tá sendo bem doloroso. Mas tenho fé, que Deus vai me permitir viver esse milagre novamente, e vai ser perfeito. Força pra nós!

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  3. Tenho 16 anos,e namorava com um moleque da mesma idade que eu,no dia 25/02/2017,logo pela manhã fiz um teste de gravidez,eu já desconfiava,que daria positivo,pois estava sem menstruar a 3 meses,então o teste deu positivo como eu esperava,fui ao médico,muito feliz,mesmo sabendo de todas as mudanças que seriam necessárias,chegando lá fui examinada o médico me avaliou fique a manhã toda no consultório,meu tio,o médico disse que estava tudo bem,estava grávida de 15 semanas aproximadamente quase 4 meses,voltei pra casa e resolvi falar com o meu namorado,ele me disse "que não queria ser pai,"tire",acabamos brigando,e eu senti uma dor muito forte,quando eu acordei,já no Hospital,a enfermeira e a psicologa vieram conversar comigo,eu vi meu mundo desabar,minha menina linda,tinha o rostinho e o corpinho,perfeitinhos já formados. Mas eu não podia sentir ela.aii que dor,saber que estive grávida 3 meses e alguns dias,resumidos em apenas um,em que eu dividir entre um grande alegria e a maior tristeza da minha vida. O idiota do meu ex disse que deu graças a Deus por isso ter acontecido. Mas eu sei que a justiça de Deus não falhará diante dele. E eu sou nova e terei muitas oportunidades de ser mãe pra sempre.

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