segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração


Um dia me disseram que quando começamos a relembrar certos fatos em décadas é sinal de que estamos envelhecendo. Fato. Quando ouvi isso, já começava a calcular pelo menos uma década de algumas memórias.


Era sábado e eu tinha o apartamento todo para mim. O marido estava fazendo um belo curso de cerveja – sim! História e degustação das cervejas mundiais – e eu uma bela faxina no meu apartamento, com direito a tentativas frustradas de passar roupas. Não almocei. Quem vê graça em almoçar sozinho? Não eu! Resolvi deitar e dormir por alguns minutinhos. Talvez umas duas horinhas com direito a acordar de tempos em tempos, com medo de perder hora. Levantei, tomei banho e comecei a organizar a mesa.


Ao colocar cada pratinho com torradas, petit fours e coockies na mesa me lembrava de quantas lembranças eu guardava na memória, mas, ainda mais, no coração. Era um misto de saudosismo com saudades – se é que isso é possível. Mas aqui fazia sentido.


Tocou o interfone.


Não me lembro exatamente quando conheci a Mayce. Mas me lembro o quanto ela não gostava de mim na primeira série. Facilmente posso me lembrar da amizade intensa que se iniciou na segunda série, quando eu não parecia mais ser uma ameaça. Faz tempo. Exatos 21 anos. Duas décadas.


Toca o interfone novamente.


Já a Mariana me lembro exatamente quando nos apresentaram. Era sua formatura da curso de farmácia, em 2007. Não faz tempo, eu sei. Acho que não nos conhecemos antes por brincadeirinhas do destino. Nossas vidas quase se cruzaram por várias vezes, mas talvez nenhuma delas era o momento certo. Ela era amiga do meu marido. Era. Agora é minha. Minha amiga, minha madrinha. No civil e no religioso, só pra ficar melhor!


Toca o interfone pela última vez.


Fazia muito tempo que não a via. A última vez me deixou com lágrimas nos olhos. Levei meu convite de casamento com a certeza de que ela não estaria comigo nesse dia tão importante. “Mas o convite eu vou levar mesmo assim”. A Cláudia, puxando bem lá do baú da minha cachola, consigo me lembrar de sua apresentação na sala nova, onde todos já eram bem amigos e conhecidos. Era 1993 e não éramos amigas. Só nos aproximamos cinco anos depois. E talvez fosse o nosso momento. Éramos só nós duas e, quando a ‘perdi’, fiquei órfã de amiga.


Observando as conversas, percebi o quanto somos as mesmas um tanto diferente. Passou a infância das brincadeirinhas, passou a pré-adolescência e a adolescência cheia de confidências, passou a fase de transformação de menina para mulher. Somos mulheres agora. Adultas. Os papos não são mais homens, mas empregos, cursos, terapias e famílias.


Nenhum assunto começava diferente de “lembra daquela vez”, ou “como está aquela pessoa?”. Falamos de passado, mais ainda de presente. Muito pouco de futuro. Era importante saber como cada uma estava. Mais importante ainda era saber que elas estavam. Ali comigo. Mais uma vez. Vinte anos depois. E a mesa foi esvaziando e a casa também. Sobrou a Mari, minha mais nova amiga de infância.



Eu, Mari, Mayce e Cláudia: Amizade é algo inexplicável!



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Se ele dança, ela dança


Minha grande amiga Ciça decidiu que era hora de escrever uma crônica e pediu meu blog emprestado para postagem. Fico aqui na ânsia por um blog só dela, com textos tão emocionantes quanto este que segue.

Aproveitem!


Se ele dança, ela dança

Ana Cecília Panizza

Em 27 primaveras, nunca vi meu pai dançar. As exceções foram em ocasiões mais formais, como formaturas. Mas se mexer numa pista de dança? Negativo. A consequência disso era que minha mãe, ávida por diversão e por dançar, acompanhava o marido e permanecia durante horas numa mesa, enquanto os casais que com eles convivem desde o colegial - hoje ensino médio – requebravam nas pistas de dança de casamentos e afins. “Pelo menos espere cortar o bolo”, ela o repreendia.

Não sei se foram os ares do sul. Numa festa de casamento em Londrina fez-se o milagre. Era mais um evento social, entre tantos outros, com a presença desse animado grupo de amigos de meus pais. Os “adultos” estavam numa mesa perto do palco e, no lado oposto do salão, os “jovens” ou as “crianças” – é assim que distinguimos os casais e seus filhos, com os quais convivo praticamente desde que vim ao mundo.

A festa estava começando com uma empolgante sessão de flash back. Os convidados – especialmente aqueles com mais de 40, 50 anos – estavam se acabando (no bom sentido!) na pista de dança. Sentada descansando os pés, prevendo que eu dançaria até quase de manhã, e dando início a um semiporre de espumante, eu o avistei. Compondo a rodinha formada pelos casais dançando, estava ele. Balançando o esqueleto. Minha irmã já estava lá – imagino que ela também precisava e queria ver isso de perto. Não resisti e nem hesitei: atravessei a pista e me juntei a eles.

Fui discreta com minha presença e meu olhar, para que ele não ficasse travado, tímido. Minha mãe informou: “O Costa já tirou foto dele dançando”. Ao som de Abba e outros clássicos, ele se mexeu. E dançou. E relaxou. E foi feliz. Ela, idem. Minha mãe pôde fazer parte daquilo, divertir-se. Com o esposo ao lado, ela se soltou. Assistindo a tudo isso e com mais e mais Salton na cabeça, eu mentalizava as linhas deste texto.

Findos os clássicos, foi a vez de Ivete Sangalo, com direito a videoclipe no telão. “Ele não vai encarar e vai voltar pra mesa”. Para minha surpresa, ele ficou. Observou as imagens e deu umas requebradas discretas. Durante os hits internacionais da moda, ele permaneceu. Olhos fixos na tela e se mexendo bem menos, ele ficou.

Engenheiro eletrônico, diácono da Igreja Católica e filósofo, ele é dono de uma intelectualidade interessante e intrigante, uma disciplina quase militar e um apreço acima da média pelos estudos. Que felicidade se eu tivesse herdado, na íntegra, todas essas características, com essa intensidade. Felicidade sentiu minha mãe, ao ver que o companheiro desde a adolescência, primeiro e único homem, relaxou.