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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tenta achar que não é assim tão mal, exercita a paciência


E ela está lá.

Todos já partiram, tomaram seus rumos, seguiram seus caminhos. Clichês. E ela está lá. Esperando e esperando. Ansiosa e já sem gosto. As horas não voam como antes. Seguem como se os minutos demorassem horas a passar. Os dedos tocam na mesa em uníssono, inquietos.

Ela se sente deixada de lado. Ela finge acreditar nas desculpas. Por dentro a raiva que fervia seu corpo esfria vagarosamente. Por fora as lágrimas insistem em correr no rosto, como forma de protesto. A respiração é lenta e intensa, como se contasse até dez para recomeçar. Não demonstra o que já sentiu.

Nunca sentiu ingratidão.

O olhar não é mais o mesmo. Agora se vê olhos tristes, mas esperançosos, diferente daquele sombrio e interrogativo de uns tempos atrás. Os movimentos impulsivos deram lugar a calmaria e ao raciocínio. No mínimo é uma tentativa. Basta.

A espera já não a incomoda mais. E nem deve. Não se permite. A tristeza não está mais escancarada. Eu disse que não está escancarada, não que ela não existe. Mas é fato que diminuiu. Passou a acreditar que a fé e a vontade devem ser bem maiores que qualquer coisa. Por isso tem mais força.

Ela simplesmente aprende, observa cada imagem e absorve o que vai lhe ser útil. Ela aprende com os acertos e com os erros. E ela aprende com os erros alheios. Não quer fazer igual. Ela tenta se concentrar. A alegria deu uma pausa. Mas ela não abaixa a cabeça. Ela segue firme, acreditando em energias boas, sentindo uma esperança que arrebata e domina. Ela vai conseguir. Ela luta e vai conseguir!




terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Se ele dança, ela dança


Minha grande amiga Ciça decidiu que era hora de escrever uma crônica e pediu meu blog emprestado para postagem. Fico aqui na ânsia por um blog só dela, com textos tão emocionantes quanto este que segue.

Aproveitem!


Se ele dança, ela dança

Ana Cecília Panizza

Em 27 primaveras, nunca vi meu pai dançar. As exceções foram em ocasiões mais formais, como formaturas. Mas se mexer numa pista de dança? Negativo. A consequência disso era que minha mãe, ávida por diversão e por dançar, acompanhava o marido e permanecia durante horas numa mesa, enquanto os casais que com eles convivem desde o colegial - hoje ensino médio – requebravam nas pistas de dança de casamentos e afins. “Pelo menos espere cortar o bolo”, ela o repreendia.

Não sei se foram os ares do sul. Numa festa de casamento em Londrina fez-se o milagre. Era mais um evento social, entre tantos outros, com a presença desse animado grupo de amigos de meus pais. Os “adultos” estavam numa mesa perto do palco e, no lado oposto do salão, os “jovens” ou as “crianças” – é assim que distinguimos os casais e seus filhos, com os quais convivo praticamente desde que vim ao mundo.

A festa estava começando com uma empolgante sessão de flash back. Os convidados – especialmente aqueles com mais de 40, 50 anos – estavam se acabando (no bom sentido!) na pista de dança. Sentada descansando os pés, prevendo que eu dançaria até quase de manhã, e dando início a um semiporre de espumante, eu o avistei. Compondo a rodinha formada pelos casais dançando, estava ele. Balançando o esqueleto. Minha irmã já estava lá – imagino que ela também precisava e queria ver isso de perto. Não resisti e nem hesitei: atravessei a pista e me juntei a eles.

Fui discreta com minha presença e meu olhar, para que ele não ficasse travado, tímido. Minha mãe informou: “O Costa já tirou foto dele dançando”. Ao som de Abba e outros clássicos, ele se mexeu. E dançou. E relaxou. E foi feliz. Ela, idem. Minha mãe pôde fazer parte daquilo, divertir-se. Com o esposo ao lado, ela se soltou. Assistindo a tudo isso e com mais e mais Salton na cabeça, eu mentalizava as linhas deste texto.

Findos os clássicos, foi a vez de Ivete Sangalo, com direito a videoclipe no telão. “Ele não vai encarar e vai voltar pra mesa”. Para minha surpresa, ele ficou. Observou as imagens e deu umas requebradas discretas. Durante os hits internacionais da moda, ele permaneceu. Olhos fixos na tela e se mexendo bem menos, ele ficou.

Engenheiro eletrônico, diácono da Igreja Católica e filósofo, ele é dono de uma intelectualidade interessante e intrigante, uma disciplina quase militar e um apreço acima da média pelos estudos. Que felicidade se eu tivesse herdado, na íntegra, todas essas características, com essa intensidade. Felicidade sentiu minha mãe, ao ver que o companheiro desde a adolescência, primeiro e único homem, relaxou.