terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Se ele dança, ela dança


Minha grande amiga Ciça decidiu que era hora de escrever uma crônica e pediu meu blog emprestado para postagem. Fico aqui na ânsia por um blog só dela, com textos tão emocionantes quanto este que segue.

Aproveitem!


Se ele dança, ela dança

Ana Cecília Panizza

Em 27 primaveras, nunca vi meu pai dançar. As exceções foram em ocasiões mais formais, como formaturas. Mas se mexer numa pista de dança? Negativo. A consequência disso era que minha mãe, ávida por diversão e por dançar, acompanhava o marido e permanecia durante horas numa mesa, enquanto os casais que com eles convivem desde o colegial - hoje ensino médio – requebravam nas pistas de dança de casamentos e afins. “Pelo menos espere cortar o bolo”, ela o repreendia.

Não sei se foram os ares do sul. Numa festa de casamento em Londrina fez-se o milagre. Era mais um evento social, entre tantos outros, com a presença desse animado grupo de amigos de meus pais. Os “adultos” estavam numa mesa perto do palco e, no lado oposto do salão, os “jovens” ou as “crianças” – é assim que distinguimos os casais e seus filhos, com os quais convivo praticamente desde que vim ao mundo.

A festa estava começando com uma empolgante sessão de flash back. Os convidados – especialmente aqueles com mais de 40, 50 anos – estavam se acabando (no bom sentido!) na pista de dança. Sentada descansando os pés, prevendo que eu dançaria até quase de manhã, e dando início a um semiporre de espumante, eu o avistei. Compondo a rodinha formada pelos casais dançando, estava ele. Balançando o esqueleto. Minha irmã já estava lá – imagino que ela também precisava e queria ver isso de perto. Não resisti e nem hesitei: atravessei a pista e me juntei a eles.

Fui discreta com minha presença e meu olhar, para que ele não ficasse travado, tímido. Minha mãe informou: “O Costa já tirou foto dele dançando”. Ao som de Abba e outros clássicos, ele se mexeu. E dançou. E relaxou. E foi feliz. Ela, idem. Minha mãe pôde fazer parte daquilo, divertir-se. Com o esposo ao lado, ela se soltou. Assistindo a tudo isso e com mais e mais Salton na cabeça, eu mentalizava as linhas deste texto.

Findos os clássicos, foi a vez de Ivete Sangalo, com direito a videoclipe no telão. “Ele não vai encarar e vai voltar pra mesa”. Para minha surpresa, ele ficou. Observou as imagens e deu umas requebradas discretas. Durante os hits internacionais da moda, ele permaneceu. Olhos fixos na tela e se mexendo bem menos, ele ficou.

Engenheiro eletrônico, diácono da Igreja Católica e filósofo, ele é dono de uma intelectualidade interessante e intrigante, uma disciplina quase militar e um apreço acima da média pelos estudos. Que felicidade se eu tivesse herdado, na íntegra, todas essas características, com essa intensidade. Felicidade sentiu minha mãe, ao ver que o companheiro desde a adolescência, primeiro e único homem, relaxou.

4 comentários:

  1. Liiiii, que orgulho por ver minha crônica aqui!!! Obrigadíssima. Isso significa mto pra mim. Bjão. Ciça Panizza

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  2. Que delícia de texto. Uma narrativa emocionante. Imagino como não deve ter sido legal essa festa. Queria ter estado lá. Imagino também a sua felicidade em ter vivenciado tudo isso. Tenho certeza que as coisas mais legais da vida estão nos gestos e fatos corriqueiros. Ah como seria bom se todos os pais dançassem e se soltassem... Ah como seria bom se todos os pais, mesmo depois de pais, vivessem!!!

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  3. Muito bom texto cici! Realmente ler assim fica fácil e emocionante! E parabéns a li também pela iniciativa de publicar essa crônica! Também quero "crônicar" no seu blog!!!

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  4. Valorizar cada segundo da vida, como se fosse o ultimo. Texto maravilhoso, leve e emocionante. Parabens !

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