segunda-feira, 20 de junho de 2016

Tal filha, tal mãe, por Aline Cortes

A Aline é da galera de comunicação. Subentende-se que é moderna, curte artes, danças! Sim, não deixa de ser verdade.

Mas ela se surpreende quando sua filha, aos dois anos, questiona sobre cabelos. E a surpresa maior vem mais tarde, quando a menina ainda não tem nem cinco anos e a pergunta, novamente, sobre o mesmo assunto. Vocês vão se surpreender com a atitude dessa mãe parceira!!!


Tal filha, tal mãe
Por Aline Cortes


Meu nome é Aline, sou formada em Rádio e TV e tenho uma filha, a Luna, de 5 anos. 


No filme ‘Awake – A vida por um fio’, a mãe do protagonista abre mão da própria vida para doar o coração para o filho que está morrendo em uma sala de cirurgia.  E fiquei pensando que, se nós estivéssemos vivendo aquilo, eu não pensaria duas vezes antes de tomar a mesma decisão da personagem de Lena Olin, porque não faria o menor sentido continuar vivendo sem minha filha.

O assunto aqui é sobre doação, porém, mais leve do que o do filme acima. A minha doação é diária e começou desde o momento que descobri a gravidez: mudei a alimentação, a rotina, a relação com o corpo, com a saúde, com o trabalho; a casa nova foi planejada já sabendo que, muito em breve, teria a presença diária de um bebê ali. Desde que nasceu, muitas das escolhas foram feitas pensando exclusivamente nela; algumas mais fáceis, outras nem tanto.

Vamos falar sobre os cabelos...

Aos dois anos e meio Luna tinha um corte de cabelo que era um charme, e vivia recebendo elogios: um channel bem curtinho e repicado; e a ideia foi mantê-lo por um bom tempo. Luna transpira muito no calor e se tivesse um cabelo mais longo, eu teria que deixá-lo sempre preso. Liberdade já! Até porque, com aquela idade e, em minha opinião, um serzinho de aproximadamente 90 centímetros não combina com madeixas longas.

Um dia pela manhã Luna pegou um elástico de cabelo e pediu que eu prendesse ‘igual ao da Larissa’. Como de costume, fiz um penteado “chafariz de baleia” – nome criado por nossa vizinha de quatro anos – no alto da cabeça. Luna tirou o elástico dizendo “Assim não, mamãe, aqui atrás”. Ui! Ouvi o barulho dos pedaços do meu coração caindo no chão de madeira do quarto. Depois de recolhê-los mentalmente, perguntei se a Larissa era alguma amiga da escola, já imaginando que ela teria cabelos compridos. Luna respondeu que sim.  Tentei fazer um rabicó, mas ao colocar a mão e perceber a escassez de cabelo que estava preso, Luna não ficou satisfeita e desmanchou o rabo de cavalo coelho, repetindo o mantra “Assim não, mamãe. Assim não”. Como eu sabia que não conseguiria atender suas vontades, sugeri que ela segurasse o elástico até a escola e lá pedisse que a auxiliar cabeleireira das meninas prendesse seu cabelo. E assim foi.

Mas no caminho para o trabalho fiquei pensando sobre o assunto. Todas as pessoas próximas a Luna (tirando as avós) tinham cabelo comprido: eu, a madrinha, a prima, a mãe da prima, a namorada do padrinho, as amigas da escola, a professora, as auxiliares. Uns maiores do que outros, mas todos possíveis de serem presos num rabo de cavalo. E achei “injusto” com ela. Bem, seu cabelo ficaria curto de qualquer jeito e eu não tinha como opinar no cabelo alheio; mas poderia fazer algo com o meu.

E fiz. Cheguei ao trabalho e pedi sugestões de lugares pra cortar. Minha chefe corta com um cara que fica na rua ao lado do trabalho. Liguei e marquei horário para o final do expediente. Eu estava muito feliz por radicalizar pelos motivos em si, mas tamanha mudança em algo fundamental para uma mulher, literalmente de uma hora pra outra, não estava sendo fácil. Passei a tarde em um misto de ansiedade e animação.

Mas pensava sempre na Luna, pois, mesmo que ela não entendesse claramente o motivo da mudança, EU sabia que poderia ser o exemplo caso ela se/me questionasse a respeito do seu visual. Então acabei chegando ao salão tão decidida do que queria, que passei quase uma hora praticamente implorando pro cabeleireiro pesar a mão.


Quando me viu, Luna fez uma carinha de ‘tem alguma coisa diferente’, mas como eu estava super empolgada, acabei não dando muito tempo pra ela avaliar a figura que adentrava pela porta e já fui chacoalhando a cabeça dizendo igual uma doida escandalosa: “Filhaaaaaaa, mamãe cortou o cabelo pra ficar igual ao seu!!! Agora nós duas temos o cabelo curtinho!!!”. Não sei se a empolgação era de saudade por me ver depois de um dia inteiro longe ou se ela achou o visual um 'a-rra-so'! Mas Luna pulou no meu colo, me abraçou forte e me deu aquele beijo molhado-animado.




Uns dois anos mais tarde, meu marido vem me contar todo animado, em um momento a sós: “Sabe o que a Luna me pediu? Pra cortar o cabelo; mas só de um lado, raspado mesmo.”

Demorei alguns segundos para entender o que significava aquele pedido. Quando caiu a ficha, quase tive uma parada cardíaca. O que mais me assustou foi a entonação de voz do Silvio, apoiando a ideia da filha com toda empolgação possível. Fiquei histérica, rejeitando aquela “maluquice toda” de qualquer maneira. Imagine, uma menina de quatro anos e meio, raspando toda lateral da cabeça! “Aline! Cabelo cresce”, ele me dizia.

Dias depois, em um encontro com amigos, desabafei, imaginando que receberia total apoio por parte deles. A reação foi completamente oposta a que eu imaginava. Adoraram a ideia. Ah! Esse povo das artes e da dança, sempre tão moderno, tão pra 'frentex'. Minha cara foi pro chão, de novo!

Até que uma delas sugeriu: “Faça só em um pedacinho pequeno, não precisa raspar a lateral toda. Assim mata a vontade dela.” Eu não tinha pensado nesta possibilidade. Já digo tantos e tantos 'nãos' pra ela, já deixo minha filha tão ansiosa por não poder isso, aquilo ou aquilo outro. Qual o problema de um corte diferente? Cabelo cresce.

Mais uma vez a vida mostra que ser mãe é ser desafiada a rever conceitos e passar por experiências únicas.

A arte no cabelo da filha foi obra do pai dela; muitos anos de experiência como cabeleireiro. Luna A-D-O-R-O-U! E eu não poderia ter ficado mais feliz ao ver aquele sorrisão banguelo se olhando no espelho.

Cabelo cresce.


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