segunda-feira, 25 de julho de 2016

Solidão na maternidade, por Gisele Bueno

Morar longe da família e ter um marido que precisa se ausentar frequentemente por conta de sua profissão já não é fácil. Mas e quando você acaba de ter um bebê e logo no primeiro mês ter que dar conta de tudo sozinha?

Gisele, casada com um jogador de futebol, conta como foi esta experiência difícil, mas que fortaleceu ainda mais seu vínculo com Maria Isabella, e seu amor pelo marido e pela família!

Solidão na maternidade,
Por Gisele Bueno





Meu nome é Gisele, tenho 33 anos, nasci em Cabreúva, vivi em Jundiaí até os 23 (com algumas mudanças para Bauru e São Paulo por conta de faculdades). Morei cinco anos em Porto Alegre e, desde 2012, moro em BH. Sou casada com o goleiro Victor, do Atlético Mineiro, e tenho uma bebê de 6 meses, a Maria Isabella.

A Lívia foi minha colega de sala no colégio e pediu para eu contar um pouco da minha experiência de maternidade morando longe da família e tendo um marido que é pessoa pública.

Antes de qualquer coisa gostaria de sugerir a leitura de um texto que encontrei há poucos meses no site do Instituto Nascer chamado A armadilha da Mulher Maravilha. Ele fala sobre a mulher da classe média e sua experiência de solidão na maternidade. 

Posso resumir meu primeiro mês com minha bebê exatamente nessa palavra: solidão. 

Minha filha nasceu no dia 26 de dezembro de 2015. Meu marido (atleta de futebol), estava em férias e pôde acompanhar o parto. Estavam comigo, ainda, minha mãe, minha avó de 93 anos, meu irmão mais velho (somos em 4 irmãos) e uma amiga irmã de Porto Alegre.

Minha pequena nasceu super bem, muito tranquila. Adaptei-me muito rapidamente com a rotina, não tive problemas para amamentá-la e papai teve (e ainda tem) uma experiência super participativa nos sete primeiros dias da vida dela. Minha mãe voltou à Jundiaí quando Maria fez quatro dias e minha amiga voltou à Porto Alegre quando ela completou oito. A partir de então éramos eu, uma bebê, uma casa enorme e cinco cachorros. Meu marido viajou para a Flórida a trabalho e ficou lá por mais ou menos 20 dias. Nesse período, minha funcionária teve folga e realmente fiquei SOZINHA com minha bebê.

Vizinhos? Não os conheço. Amigos? A maioria viajando por estarmos em janeiro (pré-temporada no futebol, as amigas ficam em suas cidades) e férias escolares  (as amigas fora do futebol estavam viajando com suas famílias).

Mas por que você não teve sua bebê perto da família? Eu queria muito que minha médica que me acompanhava há anos fizesse o parto, só me sentia segura perto dela. E, tendo a bebê em Jundiaí, teria que voltar com ela a BH com menos de 1 mês  (que era quando meu marido voltaria de viagem, e a hipótese de ficar longe dele era nula), o que considerei um desgaste desnecessário para um serzinho tão frágil .

Enfim, eu optei por não ter babá naquele momento. O primeiro mês resumiu-se em, basicamente, eu e minha bebê sozinhas em casa. Fiz tudo, recém-operada (o parto foi cesárea), subia e descia escadas, cuidava dela em tempo integral, e, minha funcionária estando em folga, cuidei do lar. Sabe aquele momento em que você dá seu filho para alguém segurar enquanto vai ao banheiro? Não tive isso! Rs. 

Mas não me arrependo de nada. Eu e Bella criamos um grande vínculo, tenho certeza. Nosso lar tranquilo e de paz e silêncio contribuiu, eu acredito, para que ela fosse uma bebê extremamente calma. No primeiro mês ela praticamente dormia dia e noite, era eu quem a acordava para mamar. E Bella é assim até hoje, com seis meses, uma criança doce e calma. Não sei o que é sofrer com cólicas ou com noites em claro, até hoje ela dorme muito bem (o que pode mudar, eu sei. Ainda não chegaram dentinhos e outros fatores que também atrapalham o sono).

Mas não foi um primeiro mês fácil.  Eu me vi sozinha com um bebê e em plena solidão. O silêncio muitas vezes ecoava, quebrado apenas pelos latidos dos cachorros. Somado à chuva constante dessa época em BH havia um bebê que dormia o tempo todo. Fico pensando que, fosse eu alguém de estrutura psicológica mais frágil, teria entrado em depressão. A minha fuga foram os livros, jornais, algumas (poucas) visitas e a volta da minha funcionária ao trabalho. Mas houveram noites em que bateu um aperto muito grande por não ter com quem dividir as incertezas dessa nova fase da vida, dessa mudança brusca que é ser mãe.  Eu, que sempre fui independente, saía para todo o lado, resolvia tudo, me vi privada de tudo, presa ao lar e a um bebê e sem ter alguém ao lado para dividir esse momento. Na verdade, a grande solidão era a falta do marido (quem o conhece sabe, ele preenche o lar, é luz e alegria aonde quer que esteja) e de uma figura-mãe com quem pudesse me identificar.

Aproveito para compartilhar uma parte do texto da Marcela Feriane * Canjica:

A mãe da mãe ajuda a filha a voar. Cuida de tudo o que está às mãos para que ela se reconstrua, descubra sua nova identidade. Ela agora é mãe, mas será sempre filha.


Toda mãe recém-nascida precisa dos cuidados de outra mulher que entenda o quanto esse momento é frágil. A mãe da mãe pode ser uma irmã, sogra, amiga, doula, vizinha, tia, avó, cunhada, conhecida. O fato é que o puerpério necessita de união feminina, dessa compreensão que só outra mãe consegue ter. O pai é um cuidador fundamental, comanda a casa e se desdobra entre mãe e filho, mas é preciso lembrar que ele também acaba de se tornar pai, ainda que pela segunda ou terceira vez.


Bom, com o tempo as coisas foram se ajeitando, a vida social foi sendo retomada, contratei uma babá para me ajudar por três meses apenas.

Meu marido continua ficando pouquíssimo em casa, há semanas em que passa apenas uma noite aqui, então a maioria das noites somos apenas eu e minha bebê. Mas agora já estou adaptada, acho que o fato de ser muito independente desde sempre contribuiu para que a ausência da família  (e de ajuda) fosse suprida. Minha família só viu minha bebê em duas ocasiões  (algumas pessoas apenas), bem como a família do meu marido (o vovô paterno ainda não a conhece, a agenda apertadíssima e sem folga do papai não permitiu uma viagem). Aliás, que inveja boa tenho de vocês cujos maridos dormem todas as noites em casa e têm folga aos finais de semana! Agradeçam! Rs! Aqui, folgas e noites em casa são artigo de luxo!

Sobre o marido ser pessoa pública não muda muito em relação à Bella  (ou, pensando bem, sim, rs). Quando estava próximo dela nascer uma rede de TV nos procurou para filmar o parto (!!!!)... só que nunca! Sou bem discreta, e algo tão especial, único e íntimo como a chegada do primeiro filho jamais seria exposto (como quase nada em nossa vida é). Na verdade não posto fotos dela em redes sociais por segurança mesmo.

Acho que é isso! Não é fácil morar longe da família, minha mãe é minha melhor amiga, senti muiiitooo não tê-la ao meu lado nesse início  (ela cuida da minha avó de 93 e do meu pai que sofreu um acidente, por isso não pode ficar viajando). Penso nas amigas que moram em outros países, e mais ainda naquelas que moram sozinhas (mães solteiras/viúvas) que cuidam de seus filhos e ainda do lar, sem ajuda. Meus aplausos a elas!

Realmente tenho uma vida muito boa (já preparada para os discursos das mães que virão aqui dizer que não sei o que é sofrer, rs), tenho funcionários que são anjos em nossas vidas, mas estar longe de quem amo e ter um marido que viaja tanto  (ausente não, ausência é outra coisa!)  não é fácil! Cadê a vovó quando você quer sair com seu marido? Ou fazer as unhas? Ou desabafar, sentar no colo...? Creio, porém, que tudo isso aumentou ainda meu laço  com minha bebê, e sei que isso vai se refletir em toda a vida dela! Talvez ela estranhe os avós toda vez que encontrá-los mas... isso faz parte! Rs!



Se você também quer compartilhar sua experiência como mãe ou como pai, envie um e-mail para contato@leidagravidez.com.br e conte-nos sua história. É importante você enviar uma ou mais fotos com autorização de imagem para publicação.

Um comentário:

  1. Como nao me identificar com essa linda história de solidão pós parto....vivi exatamente isso,mas tive a sorte de minha mãe abrir mão de tudo para estar comigo no primeiro mês de vida dos meus dois filhos, meu marido tb é do meio do futebol e bem disse Gisele; finais de semana em casa são artigos de luxo....e isso aconteceu no primeiro parto, ja que o meu marido viajava a trabalho e nossa pequena resolveu vir ao mundo... o pai a conheceu com 2 dias de vida... já o segundo parto,o pai assistiu porque foi programado mas viajou no dia seguinte;tive que sair da maternidade com a cunhada que se dispôs a nos buscar....mas aí ja tinha a cia da primeira filha com 7 anos que ajudou a diminuir bem essa solidão...de verdade o vínculo que se forma entre mãe e filhos com essas ausências realmente é unico lindo, forte e pra sempre!!! Nada substitui o aconchego dos braços do marido na madrugada pós mamadas mas só de estar com o nosso sonho aconchegado ao peito faz tudo valer a pena!!!

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